03/10/2009

SC Vila Real de novo ludibriado - Parte II

Por: Abel José Teixeira Passos (Jogador SC Vila Real - Época 1958/59)

Na sequência da classificação da série B do Nacional da III Divisão (1ª. fase) da época 2008/09, o SCVR, Futebol Clube de Leça (FCLE), Grupo Desportivo de Moncorvo (GDM) e Futebol Clube da Lixa (FCLI) voltaram a defrontar-se, em duas voltas, para decidir quais os dois clubes que permaneceriam na prova federativa e aqueles que baixariam aos Campeonatos Distritais.

Chegada a última jornada, após vitória do SCVR sobre o FCLE por 5 a 4 na jornada precedente, em cujo jogo a equipa de Leça da Palmeira se bateu com dignidade e galhardia (registe-se e sublinhe-se!), apesar de não necessitar de pontuar, pois desde há muito tempo tinha a manutenção assegurada, o outro lugar que permitiria a permanência iria decidir-se no jogo FCLE-GDM, de cujo desfecho dependia a manutenção ou despromoção do SCVR e GDM, já que o FCLI se encontrava irremediavelmente no último lugar.

Nesse jogo, o GDM, para conseguir a manutenção, teria que vencer a equipa visitada, que patenteara enorme supremacia nesta derradeira fase do Campeonato, de tal forma que só havia perdido pontos no reduto vila-realense. Por seu lado, o SCVR, que visitava o FCLI para jogo que se afigurava fácil (e foi!), dada a fragilidade competitiva evidenciada pelo clube da Lixa ao longo da época, esperava, naturalmente, que o FCLE vencesse, expectativa fundada no curriculum da equipa leceira, reforçada pelo propósito manifestado pelos seus dirigentes – aquando do jogo em Vila Real, oito dias antes! – de que iriam dignificar o Desporto (leia-se não dar facilidades ou abdicar da vitória), ou seja, não falsear a verdade desportiva…

Pois sim!... Na hora da “verdade desportiva”, o FCLE apresentou-se em campo com 10 (DEZ!) atletas habitualmente suplentes ou das reservas e com apenas UM titular que acabaria substituído por outro reservista… Em consequência deste inusitado, indecoroso, no mínimo, e de todo anti-desportivo comportamento do FCLE, o GDM venceu (pasme-se!) por 6 a 1, “conseguindo” assim a manutenção na III Divisão nacional, sendo o SCVR relegado para o Campeonato Distrital.

Face aos indesmentíveis factos descritos e às atinentes considerações produzidas, poder-se-á classificar o comportamento do FCLE de outra maneira que não seja de desvirtuamento deliberado da verdade desportiva, com prejuízo de terceiros? É por demais evidente que não! Tanto mais, que se saiba, não houve acidente nem desenteria ou qualquer outra maleita que tivesse incapacitado quase todos os atletas habitualmente titulares e que, “selectivamente”, deixasse ilesos/incólumes os restantes elementos do plantel… Ademais, a verificar-se tão abrangente impedimento pelos motivos aventados ou outros, tal não deixaria de ser notícia nos diversos órgãos de comunicação social, dado o ineditismo ou raridade do acontecimento. Ora, como tal não aconteceu, fácil é concluir que o afastamento de dez habituais titulares da equipa do FCLE no jogo em apreço não foi ditado por circunstâncias imprevisíveis… De resto, como na análise atrás expendida se sugere ou aponta.

Sendo certo que a subtil atitude dos responsáveis do FCLE não constitui ilícito, face às leis e regulamentos, não é menos certo que o estratagema está eivado de suspeição, pelo que se estranha e lamenta que nem a Associação de Futebol de Vila Real (AFVR) nem a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) tenham denunciado e reprovado publicamente, como se impunha, tão notório atentado à ética desportiva, quanto mais não fosse por razões de ordem pedagógica.

Mas, à AFVR era exigível, também, manifestação pública de solidariedade para com o seu associado, pelo que não foi bonito, antes pelo contrário, que tivesse feito “orelhas moucas” ao comunicado em que os dirigentes do SCVR denunciaram as circunstâncias em que ocorreu a despromoção.

Do mesmo modo, é também de censurar o alheamento da Câmara Municipal de Vila Real em tão momentoso assunto, deixando sozinho o mais antigo e representativo clube desportivo da cidade na denúncia do embuste de que foi vítima, e sem uma palavra sequer de solidariedade em hora tão azedia para a colectividade, de resto, lamentavelmente, no peculiar estilo do seu Executivo – passividade ou frouxidão – quando se impõe acção ou reacção rápida e enérgica na defesa dos interesses de Vila Real.

Quanto à FPF, bom seria que promovesse estudos e iniciativas tendo em vista a implementação de medidas para prevenir e combater, no futuro, comportamentos e consequências idênticos aos verificados no jogo FCLE-GDM atrás referido, bastando para isso, em tais casos, a exigência de irrefutável e cabal justificação dos factos – que não mera “opção técnica” ou “gestão de recursos humanos”… -, sempre que do laxismo (ou compadrio!) de um clube , por não necessitar de pontuar, resulte benefício para o seu adversário directo e prejuízo de terceiros, mormente quando está em causa o título (campeão), promoção, permanência ou despromoção nos diferentes escalões das provas federativas e associativas. Aliás, as desejadas medidas, ora sugeridas, assentariam no mesmo espírito que subjaz à obrigatoriedade dos jogos das duas últimas jornadas dos campeonatos se realizarem no mesmo dia e hora.

Finalmente, um aceno de viva simpatia ao SCVR e de sincera homenagem a todos quantos – dirigentes, atletas, associados, adeptos e simpatizantes – contribuíram com apaixonada dedicação e sã vivência do Desporto para o seu enobrecimento ao longo de quase noventa anos, desde a sua fundação em Maio de 1920.

Claro que o amplexo configurado nas palavras precedentes abarca também os dirigentes do SCVR que, na senda dos seus antecessores, pronta e dignamente denunciaram o desaforo – por inusitado e incompreensível – de que resultou a despromoção do clube na época transacta.

Por último, o meu preito de reconhecimento aos actuais dirigentes do SCVR, pela dedicação que a disponibilidade para assumir a gestão do clube em fase de evidentes dificuldades só por si demonstra. E oxalá o seu exemplar empenho, que não será isento de dificuldades e sacrifícios, seja compreendido, reconhecido e apoiado por todos – vila-realenses, associados e simpatizantes – de forma a criarem-se as condições para que a médio prazo (que não em tempo breve, há que reconhecê-lo!) o SCVR ressurja no panorama do futebol nacional à altura dos seus pergaminhos. Para tal, bastaria que todos quantos gostam de Vila Real e do SCVR se dispusessem a ajudar o clube com entregas ou transferências bancárias – mensais ou trimestrais -, na medida das disponibilidades de cada um. Deixo o apelo.

In: Notícias de Vila Real

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