01/10/2009

SC Vila Real de novo ludibriado - Parte I

Por: Abel José Teixeira Passos (Jogador SC Vila Real - Época 1958/59)

No seu historial de quase noventa anos, o Sport Club de Vila Real (SCVR) – um dos pioneiros da prática do futebol na nossa região – protagonizou inúmeros êxitos desportivos que proporcionaram aos vila-realense, em geral, e aos indefectíveis adeptos, em particular, inesquecíveis momentos de acrisolado bairrismo e amor clubista.

Naturalmente, períodos houve de menos fulgor e até de sentidas decepções, como são sempre as descidas de divisão e também as goradas subidas de escalão, sobretudo quando aconteciam depois das expectativas iniciais, reforçadas ao longo da época, augurarem o melhor resultado final. Aliás, estas vicissitudes mais não são do que o “reverso da medalha” das competições desportivas, quando sadiamente praticadas. De resto, a estas contrariedades – despromoção ou não promoção – só as equipas dos três grandes do futebol português terão escapado, estamos em crer. Não se pense, todavia, que com esta afirmação se queira defender que seja esta a bitola por que hão-de aferir-se os valimentos dos clubes ou equipas, mas tão-somente sublinhar que tal ou tais reveses atravessam quase todo o espectro do futebol português.

Seria estultícia não reconhecer que há clubes de futebol mais antigos, muitos com palmarés incomparavelmente melhor, inúmeros da sua igualha e muitíssimos que ficam aquém do SCVR, quer considerando o conjunto dos vectores enunciados quer cada um por si. Contudo, no que respeita à conduta dos clubes e pessoas (corpos sociais e atletas) consubstanciada na lisura de procedimentos, atitudes e comportamentos no relacionamento com congéneres e adversários no campo de jogos, ou seja, na escrupulosa observância da ética, moral, civismo e desportivismo, o SCVR pede meças aos melhores. O SCVR está de certeza absoluta entre os impolutos. O SCVR não tem “rabos de palha”!

Pelo contrário, o SCVR já foi vítima, pelo menos duas vezes, da vileza que é o atropelo da verdade desportiva, tão bem sintetizada pelos latinos na paradigmática expressão “mente sã em corpo são”. E mesmo quando houve oportunidade de “ajuste de contas”, como, aliás, os trapaceiros temiam e adiante se verá, o SCVR comportou-se com a seriedade e verticalidade que lhe são próprias, intrínsecas. De tal forma, que os seus dirigentes e atletas – corria a época de 1955/56 – recusaram liminarmente, fora e dentro das quatro linhas, aceder aos rogos da equipa visitante (Futebol Club de Fafe/FCF) e à concomitante represália sobre terceiros (Sporting Club de Fafe/SCF) em jogo decisivo para aquele, que não para o SCVR que já tinha assegurado a passagem à 2ª. fase do Nacional da III Divisão.

Note-se, para melhor entendimento da situação vivida pelos dois clubes então existentes em Fafe, que naquele jogo o FCF tinha senão a primeira, pelo menos a rara oportunidade de suplantar o arqui-rival, o que só não aconteceu porque o SCVR não cedeu desviar-se dos princípios que o enformam e norteiam, isto é, agiu e actuou de forma a dignificar o desporto, em suma, pugnou pela verdade desportiva, como é seu timbre. E fácil é imaginar, sobretudo para quem porventura só agora tome conhecimento do sucedido, quão importante era o desfecho daquele jogo para os dois clubes de Fafe, dramático mesmo para aquele que não prosseguisse na prova, dada a hiper-rivalidade existente.

Ora como se deduz dos factos atrás relatados, quem passou à fase seguinte, conjuntamente com o SCVR, foi o SCF… Precisamente o clube que fora o protagonista-mor de descarado desvirtuamento da verdade desportiva que obstou que o SCVR prosseguisse disputando o Nacional da III Divisão da época anterior (1954/55) … E, por isso, receava hipotética represália por parte do SCVR… Represália temida, devido ao que se passou na última jornada da 1ª. fase daquela época; o SCF, com a qualificação garantida, recebia o Grupo Desportivo de Chaves (GDC), que necessitava vencer para prosseguir na prova; o SCVR, que jogava no “Calvário” partida que se antevia fácil (e foi!), expectava que o GDC não conseguisse os seus intentos, mas o que aconteceu foi a vitória da equipa flaviense, resultado que mais não foi do que a confirmação dos rumores que profusamente correram durante a semana que antecedeu a decisiva jornada… Desfecho esse, completamente rematado, coroado com manifestações públicas de mútuo regozijo em pleno campo de jogos, por parte de dirigentes, atletas e adeptos de ambos os clubes, com estes, em gesto que supomos inédito em tais circunstâncias, então e agora, a estenderem a festa de confraternização às ruas de Fafe.

Retomando a sequência cronológica – época 1955/56 -, é digno de registo episódio assaz curioso e deveras elucidativo – não sem antes lembrar, para que se não perca o encadeamento do sucedido, que nesta época o SCF só passou à 2ª. fase do Nacional da III Divisão devido à derrota do FCF frente ao SCVR que não precisava de pontuar, pois já tinha a qualificação assegurada -, que aconteceu quando a Direcção do SCF, após o jogo SCF-SCVR da 2ª. fase, obsequiou os dirigentes e atletas vila-realenses com um beberete, atitude que, por demais evidente, não podia dissociar-se do que se tinha passado na época anterior… E que assumia, claramente, a um tempo, acto de contrição e de desagravo.

Além disso, reforçando o evidente motivo da homenagem, na saudação ao SCVR o dirigente do clube anfitrião utilizou a parábola “Da dama em perigo, face à ameaça de um dragão, salva por um cavaleiro”… Alegoria que explicitou – afora o “dragão” talvez por prurido existencial… - não obstante ser perfeitamente entendível para os circunstantes, que viveram os acontecimentos. Em resposta, o presidente do SCVR, o saudoso e notável Dr. Álvaro Vilar de Figueiredo, no seu peculiar estilo pausado, conciso e incisivo, não enjeitou a oportunidade para confrontar os dirigentes do SCF com o que se passou na época de 1954/55.

Começando por dirigir-se aos “dirigentes do GDC”, a que sucedia a “correcção” em surdina – SCF – pela voz do director capitão Lobato de Sousa, o presidente retorquiu, ipsis verbis, “Fosse quem fosse essa dama, fosse quem fosse o dragão, o SCVR comportar-se-ia como se comportou. O SCVR nunca se vendeu, o SCVR não se vende, o SCVR nunca se venderá! Meus senhores, muito boa tarde!”, posto o que se seguiram os cumprimentos de despedida.
(Infelizmente, salvo lapso de memória, apenas seis elementos, dentre os dirigentes e atletas de então, poderão testemunhar os eventos descritos. São eles, o director Alfredo Teixeira e os atletas Guedes, Quim (Joaquim Fernandes), Né (Óscar Barros), Rogério Amaral e o autor destas linhas, que, com um Até sempre!, envia àqueles amigos caloroso abraço. A propósito da referência ao lídimo e insigne vila-realense Dr. Álvaro Vilar de Figueiredo, não podemos deixar de manifestar estranheza pelo seu nome ainda não constar da toponímia da cidade. Prestigiado jurisconsulto, republicano, patriota e democrata assumidamente opositor da ditadura do Estado Novo, acrisolado bairrista, abnegado e sacrificado presidente do SCVR durante vários anos, bem merece essa distinção. Tal qual muitos conterrâneos e não só, aos quais dessa forma a cidade justamente já prestou tributo).

Entretanto, passados mais de cinquenta anos sobre os factos atrás evocados, de novo o SCVR é vítima de trapaceirice. Desta vez, o ludíbrio aconteceu há cerca de três meses, pelo que estará com certeza na memória de todos aqueles que sentem e vivem Vila Real e tudo quanto lhe diga respeito. Não obstante, recorde-se o espúrio acontecimento e registem-se as pertinentes considerações que tão insólito caso suscita, para o preservar do esquecimento, à guisa de “certidão para memória futura”… Expressão judicial, aqui e agora não de todo descabida!...

In: Notícias de Vila Real
Legenda da foto:
SC Vila Real época 1958/59
Em cima: Platas, Abel Passos, Né Óscar, Bibelino, Ângelo, Hélder, Garófalo (treinador/jogador), Roldão
Em baixo: Lutero, Matos, Avelino, Castanheira, Borges

2 comentários:

Dragão Maronês disse...

Lembro-me de muitos dos jogadores do S.C.Vila Real que estão na foto.
Desde logo o Platas e o Angelo, mas também do Garófalo do Castanheira que creio ter sido "chaufer" do Dr. Vilar (guiava um Citroen boca de sapo quase tão famoso na "Bila" desse tempo como o Mercedes descapotável vermelho do Antoninho do Talho que era lindo, silencioso e deslizava pela cidade devagarinho para ver e ser visto), do Bibelino,do Avelino. O Lutero parece-me que era um jogador que tinha pertencido ao F.C.Porto e depois foi para o Vianense.O Roldão parece-me que também era do Porto e depois acabou por dar nas vistas no Vitória de Guimarães, mas destes dois não tenho a certeza que sejam os mesmos. Falta na foto um jogador que para mim foi uma referência do Vila Real desses tempos: Barreira.
Quantas aulas eu faltei na Escola Industrial cujo 1º Ciclo funcionava por cima da Garagem da Boavista,no Diogo Cão, para ir ver os treinos ao velhinho Campo do Calvário. Ao Campo é como quem diz, que o sr António que era o guarda do campo não deixava entrar nem um gato, mas o adro da igreja do Calvário tinha uma melhor vista para o campo que a bancada central.
Já lá vão 50 anos, as saudades desses tempos não são grandes, mas de repente, soube-me bem ter lido este post e encontrar aqui o nome e a fotografia de pessoas que tiveram importância na minha juventude. Sempre é melhor do que olhar para a cara envelhecida das raparigas desse tempo que às vezes reconheço na Gomes quando visito Vila Real. E que lindas que elas eram... ou me pareciam.

Anónimo disse...

ainda o sr Manuel Martins quer acabar com o Campo do Calvario um campo que tem tanta historia ele que tenha vergonha mas a culpa nao e so dele tambem e dos socios porque nao gostam do clube senao apoiavam mais o clube força VILA REAL

socio do bila